Pela janela do quarto ecoavam na parede os raios de sol que iriam acordá-la.
Se o sol tivesse língua, seriam eles;
Lambendo, ondulosos, as paredes e os armários;
Fazendo-se de água, e imitando um rio.
Um rio que vaga, vaga, mas é só impressão.
Impressão de luz e sombra, tão pura quando a própria Lua, mas ainda dia.
Era puro também, pois era Sol.
Nesse vagar matutino que o Sol fazia a todas as casas daquela metade iluminada,
lambia a sombra que sobrava da noite.
Queria sentir a Lua.
Queria era poder ser noite por um dia.
Ser ofuscado, e aquecido.
E naquela escuridão universal, sabia bem quão frio era o seu tempo.
Assim, toda manhã quando acordava, deitada em sua cama, sentindo seus músculos despertarem
Esperava um pouco para abrir as janelas e deixar o sol invadir seu quarto.
Queria ver mais aquela dança que tinha entre labaredas no seu teto e parede.
Elas pareciam querer agarrar algo inagarrável,
Não sabia se era inagarrável por não matéria, ou por ser tempo.
Mas dentre todas as histórias que poderia inventar ali na sua galáxia particular
Sabia que a mais verdadeira era aquela em que não estaria ali, como era,
Mas metade lua, e metade sol.
Um a busca do outro, orbitado em volta do seu cérebro,
e se posicionando cada um em cada olho.
Nunca podendo se olhar de frente
Mas logo ali ao lado.
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