quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A solidão é uma lembrança

A solidão é uma lembrança,
que passa como um filme antigo enquanto o corpo permanece inerte no tempo.
Paralisado.
E no vento, há de continuar inerte.
Por não ter mais opinião e vontade própria, tudo que se mexe é passado.
Um passado alimentado pelo sentimento de perda, de solidão, tão grande e implacável: imensurável.
E mesmo assim cabendo dentro do peito.

Sou isso agora.
Meus olhos, minhas pupilas negras e profundas tem fim nas verdadeiras expressões que gostaria de falar mas não posso mais.
Pois, quem aguenta a repetição de estar solitário?

Uma coleira me puxa pra frente, mas uma corda me mantém presa atrás.
É o poço dos meus olhos.
Que suga o momento, e pinta de cinzas.

Lá vai ele, o tempo, embora.
Queria lembrar porque me sinto só, se na totalidade das coisas, estou repleta.
Enche coração.

E assim encheram o balão,
soltaram no céu,
e estourou.

carinho

Pela janela do quarto ecoavam na parede os raios de sol que iriam acordá-la.
Se o sol tivesse língua, seriam eles;
Lambendo, ondulosos, as paredes e os armários;
Fazendo-se de água, e imitando um rio.
Um rio que vaga, vaga, mas é só impressão.
Impressão de luz e sombra, tão pura quando a própria Lua, mas ainda dia.
Era puro também, pois era Sol.

Nesse vagar matutino que o Sol fazia a todas as casas daquela metade iluminada,
lambia a sombra que sobrava da noite.
Queria sentir a Lua.
Queria era poder ser noite por um dia.
Ser ofuscado, e aquecido.
E naquela escuridão universal, sabia bem quão frio era o seu tempo.

Assim, toda manhã quando acordava, deitada em sua cama, sentindo seus músculos despertarem
Esperava um pouco para abrir as janelas e deixar o sol invadir seu quarto.
Queria ver mais aquela dança que tinha entre labaredas no seu teto e parede.
Elas pareciam querer agarrar algo inagarrável,

Não sabia se era inagarrável por não matéria, ou por ser tempo.
Mas dentre todas as histórias que poderia inventar ali na sua galáxia particular
Sabia que a mais verdadeira era aquela em que não estaria ali, como era,
Mas metade lua, e metade sol.
Um a busca do outro, orbitado em volta do seu cérebro,
e se posicionando cada um em cada olho.
Nunca podendo se olhar de frente
Mas logo ali ao lado.