sexta-feira, 27 de abril de 2012

novo código da areia.

e assim todo mundo foi embora.
com uma mala na mão, cheia de areia.
com o pé descalço, em cima da areia.
com a boca seca, com gosto de areia.

ninguém sabe pra onde vai, e ninguém sabe até onde.

a gente só vai até onde conseguir.
a gente vai morrendo, e morrendo e morrendo e morrendo.

o coração vai ficar pequenininho,
vai virar uma semente,
e vai esperar no chão.

a água vai vir - um dia -
a gente vai brotar - um dia -
e da gente mesmo - não mais gente, não - só vai nascer areia.
areia, areia, areia, e areia.




domingo, 22 de abril de 2012

a sua maior alegria foi quando aprendeu a escrever:
tinha passado 139 anos não sabendo se expressar,
e agora tinha 139 anos de folhas pra preencher.

nada poderia ser melhor.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

trim trim trim.

No começo, ele só olhava pro telefone.
Ficou sentado na frente dele, por 8 anos sem receber nenhuma ligação.
Então, trim! O telefone tocou, e como num pulo, voou para sua mão, e grudou no seu ouvido.
A conversa veio e eram tantas novidades! A pessoa do outro lado parecia falar coisas tão interessantes! E tanto! Mas tudo bem pra ele ouvir, ele gostava.
De tanto só ouvir, nem percebeu quando ela parou de falar.
E ficou esperando durante três anos, o telefone segurado perto do ouvido, que alguma palavra viesse do outro lado.
Não veio não.

No momento em que ele pôs o telefone no gancho, o telefone tocou de novo.
Foi baixinho. Nem ouviu direito.
Foi meio tímido, e ele não entendia se era pra ele mesmo.
Ficou alguns meses esperando que alguém viesse atender. Olhava pros lados, e só havia ele.
Olhou pro lugar onde estava sentado, e só havia espaço pra um.

Às vezes tocava mais alto. Às vezes tocava mais baixo.
Até que ele resolveu atender, e o telefone nunca mais tocou.
Ficou conversando lá, pra vida inteira.

domingo, 15 de abril de 2012

muita cheísse

os vários carros que passam todos os dias na estrada passam cheios de gente cheias de histórias de vida cheias de preocupações cheias de segredos e cheias demais.
se abrir o vidro, todo mundo sai voando.