Então, que tinha esse velhinho e essa velhinha.
Por mais que eu passasse todos os dias pelo mesmo caminho que eles,
nada que o costume me tentasse,
faria com que eu me acostumasse.
Eram dois velhinhos com um cômodo pra morar.
Quem quer que seja que vivesse por perto, podia até não querer enxergar,
mas ela não deveria ter de por tanta roupa no varal.
E ele não deveria ter que pregar aquelas tábuas.
Eram só dois velhinhos.
E ainda bem que tinham um ao outro.
Até que o velhinho morreu.
E a velhinha ficou sem irmão.
E foi pro asilo, onde não teria família, mas não teria um varal.
Se ela perdeu o motivo pra viver já não sei.
Se ela ganhou uma razão pra descansar, também não sei.
Mas acho que ela morreu um pouquinho quando perdeu uma parte que já era dela.
E eu morri, junto com ela.
Por mais que não fosse meu irmão,
por mais que não fosse parte de mim.
Acho que no final, quem fazia parte dela,
era eu.
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