Tinha esse menino.
E tinham vários outros meninos pelo mundo inteiro, mas naquele momento,
era só ele.
Um dia ele ouviu uma briga dos pais,
e resolveu tirar as orelhas.
Guardou dentro do piano pra ficarem bem confortáveis.
Mas quando saiu na rua no outro dia,
sentiu um cheiro insuportável.
Esgoto, bicho morto, lixo. Não sabia o que era!
Coitado do homem dormindo na rua.
Eca, tirou o nariz.
Deixou ele entre os livros antigos, porque o passado parecia tão melhor.
Dois dias depois, quando se acostumou com o silêncio,
percebeu que sem o nariz não sentia o gosto.
E as comidas da casa dele nem eram da casa dele.
E as palavras que só antes ele escutava, nem agora ele as tinha mais.
Tirou a boca e guardou num pote cheio de flores.
Das bem macias.
Assim que guardou, foi olhar a paisagem (era só isso que podia fazer),
mas o homem ainda estava lá.
E ninguém tentava acordá-lo?
Fechou os olhos. Abriu. Piscou.
Olhou pro céu.
E foi ver tv.